Literatura de Cordel como incentivo no ensino de Literatura
Descubra como a literatura de cordel pode ser usada como ferramenta para incentivar o interesse dos alunos no ensino de literatura. Saiba as vantagens e desvantagens de usar essa forma de literatura e como ela pode potencializar o aprendizado dos alunos.
A Literatura de Cordel como Fonte de Incentivo no Ensino de Literatura
A LITERATURA DE CORDEL COMO FONTE DE INCENTIVO NO ENSINO DE LITERATURA
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo identificar e analisar dados sobre uma das competências menos desenvolvidas no ensino de literatura em sala de aula, que é, sem dúvida, o gênero cordel. Este gênero pode ser uma boa oportunidade para o aluno ter um contato com a experiência cultural que emana desta literatura e toda sua riqueza expressiva, quanto à articulação de várias linguagens – verbal oral, verbal escrita, musical e visual, e quanto aos diversificados temas que aborda.
Podemos assim conhecer, valorizar e respeitar a multiculturalidade própria do nosso país e os significados e coletividades, experiências comunitárias e o imaginário do folclore, presente na produção do cordel. Além disso, é interessante discutir com os alunos como a literatura de cordel, até por sobrevivência, acaba incorporando inovações da indústria cultural, o que a torna mais rica e diversificada. Para mais informações sobre a importância da literatura na educação, veja A Importância da Literatura Infantil.
1. INTRODUÇÃO
É muito rica e diversificada a produção cultural de um povo; mas o nordestino é especial. No entanto, talvez o nosso maior problema seja a não valorização daquilo que temos. É mais propício aceitar o que a mídia propõe do que explorar o que está em nosso dia a dia.
A literatura de cordel é exatamente isso – cultura popular. Os versos estão sempre relatando acontecimentos, fatos políticos, artísticos, lendários, folclóricos ou pitorescos da vida como ela realmente é. Sua produção é simples como o povo; não requer tanto “estilísmo” ou “formalidades”; sua abrangência alcança todas as classes sociais. Assim, o que falta é o reconhecimento e a valorização. Ao propor este trabalho para os alunos em sala de aula, estaremos oferecendo um leque de recursos que os ajudarão em várias carências de aprendizagem, como a produção textual, a leitura, a escrita, a linguagem não verbal (na análise da xilogravura), apreciação artístico-literária e um universo para a socialização e cidadania, principalmente no campo da Literatura.
É um campo de estudo pedagógico onde os professores terão subsídios didáticos para trabalhar vários tipos de conteúdos, pois estes podem ser adotados aos objetivos que forem traçados. Ao mesmo tempo, é uma oportunidade para que este ramo da literatura popular tenha uma chance de aceitação e valorização, fazendo despertar entre as pessoas o gosto pela preservação dos nossos artistas e da cultura nordestina nas escolas.
1.1. OBJETIVOS
1.1.1. Objetivo Geral.
Proporcionar à escola e ao professor a inclusão da Literatura de Cordel em sala de aula para que se estabeleçam propostas para a difusão dessa arte literária entre os alunos, promovendo a qualidade da leitura, o traço forte da oralidade, presente nas falas dos personagens populares (sertanejos, brejeiros, …) e a elaboração textual, focalizando bem como a história do cordel, a vida e a obra de grandes cordelistas, para que possam conhecer esta riquíssima expressão literária popular.
1.1.2. Objetivos Específicos.
Conhecer uma rica manifestação da nossa literatura (nordestina) caracterizando valores pedagógicos (leitura, escrita e métrica dos versos) na utilização do cordel.
Possibilitar ao aluno o conhecimento da linguagem cordelista, enfocando a cultura nordestina em prol da valorização das nossas raízes.
Promover uma aproximação do aluno com a cultura popular nordestina.
Estimular um olhar crítico e simultaneamente poético sobre a realidade sertaneja.
Sabe-se que o contexto educacional, desde os tempos mais remotos, vem sempre relutando em relação ao ensino-aprendizagem, ou seja, constantes mudanças em prol da aprendizagem, porém ainda há muito a melhorar. Eis o que o aluno de hoje não tem a capacidade de interpretar ou discutir o que está lendo e de que se trata o texto.
Diante dessa questão e considerando ainda o “contexto educacional”; esse trabalho tem como justificativa reconhecer a diversidade cultural e linguística do país, conforme avalia Maria José em seu artigo da revista “Nova Escola” sobre o incentivo da literatura de cordel,
“… utilizei a literatura de cordel e textos de Patativa do Assaré para quebrar preconceitos da língua portuguesa. Mostre a seus alunos que a língua popular muitas vezes é ridicularizada porque o povo é discriminado”, afirma a professora. Peça que eles descubram a regra desses versos, que fogem do padrão institucionalizado. Trabalhando com músicas de Luiz Gonzaga, fã confesso de Lampião, também pode ser um bom material para ilustrar a vida do povo nordestino. Coloque música do rei do baião para seus alunos ouvirem e dançarem. “É um reconhecimento da diversidade cultural e linguística do país”.
Assim sendo, e considerando o que foi expresso acima, a literatura de cordel é um assunto interessante e de grande importância para nossa região, pois todo ser humano tem necessidade de conhecer suas origens, o passado, sua história, a cultura e os costumes da sociedade onde vive, de sua região.
A literatura de cordel nas escolas não é muito conhecida nem explorada, pois a mesma é vista de forma avessa pelos alunos, não trazendo consigo o sabor de que “Literatura é vida, é arte”. Devido a essa percepção a respeito da falta de divulgação e conhecimento sobre literatura de cordel nas salas de aula, tornou-se necessário que os alunos conheçam a riqueza que existe nos versos da literatura de cordel para que possam produzir textos, enriquecer-se como leitores e conhecer uma das mais ricas manifestações da língua.
1.3. METODOLOGIA
- Propor aos alunos uma oficina de literatura, utilizando o cordel como estudo.
- Estudar o cordel, a origem, a história, a métrica.
- Desenvolver um projeto “resgatando o cordel” para ser apresentado em sala de aula.
- Assistir vídeos onde a linguagem utilizada seja em forma de cordel.
- Utilizar o filme “A Quenga e o Delegado”, inspirado no cordel de Antonio Kelvisson Vianna de Lima, onde mostra a linguagem do cordel, narrativa estruturada em versos e rimas, e assim desenvolver o interesse do aluno sobre a linguagem cordelista.
- Aproveitar o teor do filme “A Quenga e o Delegado” para fazer um painel enfocando questões como a seca, condições de trabalho no campo, diferença social, as crenças populares, a religiosidade do sertanejo, o mito, o lendário e a vinculação de críticas sociais e políticas. A temática principal gira em torno do interesse popular.
2. BASE TEÓRICA.
2.1 A origem da literatura de cordel.
Do romanceiro popular português originou-se a literatura de cordel, que começou a ser divulgada nos séculos XVI e XVII, trazida pelos colonos portugueses, cuja venda era privilégio dos cegos. A partir do século XIX, o romanceiro nordestino tornou-se independente, com características próprias. Esse nome surgiu a partir de um cordel ou barbante em que os folhetos eram pendurados em exposição. Na origem, a literatura de cordel se liga à divulgação de histórias tradicionais, narrativas de épocas passadas que a memória popular conservou e transmitiu. Essas narrativas enquadram-se na categoria de romance de cavalaria, amor, guerras, viagens ou conquistas marítimas. Mais tarde, apareceram no mesmo tipo de poesia a descrição de fatos recentes e de acontecimentos sociais contemporâneos que prendiam a atenção da população.
Na Espanha, o mesmo tipo de literatura popular era chamada de “pliegos sueltos”, o que corresponde em Portugal às folhas volantes, folhas soltas ou literatura de cordel. No México, na Argentina, na Nicarágua e no Peru há o corrido, que se compõe em geral de dois grupos: os de romance tradicionais, com temas universais de amor e morte, classificados em profanos, religiosos e infantis; e os corridos nacionales, com assuntos patrióticos e políticos, estes últimos os menos cantados.
Na França, o mesmo fenômeno corresponde à “litteratue de colportage”, literatura volante, mais dirigida ao meio rural, através do “occasionnels”, enquanto nas cidades prevalecia o “canard”.
Na Inglaterra, os folhetos são semelhantes aos nossos, eram correntes e denominados “cockes” ou “catchpennies”, em relação aos romances e estórias imaginárias; e “broadsiddes” relativos às folhas volantes sobre fatos históricos, que equivalem aos nossos folhetos de motivação circunstanciais. Os chamados folhetos de época ou “acontecidos”.
Na Alemanha, os folhetos tinham formato tipográfico em quarto e oitavo de quatro e dezesseis folhas. Editados em tipografias avulsas, destinavam-se ao grande público, sendo vendidos em mercados, feiras, tabernas, diante das igrejas e universidades. Suas capas (exatamente como ainda hoje, no Nordeste brasileiro) traziam xilogravuras, fixando aspectos do tema tratado. Embora a maioria dos folhetos germânicos fosse em prosa, outros apareciam em versos, inclusive indicação, no frontispício, para serem cantados com melodia conhecida da época.
No Brasil, não se discute mais a literatura de cordel, que nos chegou através dos colonizadores lusos, em “folhas soltas” ou “manuscritos”. Só mais tarde, com o aparecimento das pequenas tipografias, no fim do século passado, a literatura de cordel se fincou raízes, sobretudo no Nordeste, justamente para provar que é uma literatura bem popular. Surgem também os chamados repentistas, que criam as letras na hora, de acordo com o pedido da plateia que lhes dá o assunto, e os cantadores obedecem, geralmente cantam em dupla, e esses têm revelado os escândalos sociais, políticos e econômicos que nos últimos anos têm nos castigado. O cordel é uma das peculiaridades da cultura regional.
À custa de muita luta, tanto os que cantam como os que escrevem o cordel têm sobrevivido. Graças à vontade de fazer algo diferente, o cordel tem rompido barreiras que pareciam intransponíveis, para poder ocupar o lugar que está sendo habitado por coisas que não são do nosso país.
2.2. Literatura de Cordel.
Os folhetos de cordel brasileiro, com seus múltiplos temas e expressiva forma de composição poética, têm sido objetos de estudo para pesquisadores do nosso país e também estrangeiros. Os textos de cordel, poeticamente estruturados, tendo como a sextilha a estrofe básica, são ilustrados com xilogravuras, chichês de cartões postais, fotografias, desenhos e outras composições gráficas, e oferecem farto material para pesquisas, ensejando variadas interpretações que remetem para o contexto sócio-cultural em que se inserem cada texto. Assim, os folhetos sobre os mais diversos temas, tradicionais ou contemporâneos, são versejados por inúmeros poetas populares, estabelecendo relações icônico-textuais significativas, ou outras intratextuais.
Como se sabe, esta riquíssima e sugestiva expressão literária popular, que encontrou campo fértil no Nordeste brasileiro, só pode ser bem compreendida dentro do contexto cultural mais amplo, envolvendo suas origens européias ou orientais, até a produção atual, de modo a se ter uma visão mais ampla dos seus temas e formas de expressão e das transformações pelas quais vêm passando, no nível da estrutura da narrativa.
2.3. Xilogravura.
A xilogravura – arte de gravar em madeira – é de provável origem chinesa, sendo conhecida desde o século VI. No Ocidente, ela já se afirma durante a Idade Média, através das iluminuras e confecções de baralhos. Mas até aí, a xilogravura era apenas técnica de reprodução de cópias. Só mais tarde é que ela começa a ser valorizada como manifestação artística em si. No século XVIII, chega à Europa nova concepção revolucionária da xilografia: as gravuras japonesas a cores. Processo que só se desenvolveu no Ocidente a partir do século XX. Hoje, já se usam até 92 cores e nuanças em uma só gravura.
Aspecto de grande importância do cordel é, sem dúvida, a xilogravura de suas capas. Sabe-se que o cordel antigo não trazia xilogravuras. Suas capas eram ilustradas apenas com vinhetas – pobres arabescos usados nas pequenas tipografias do interior nordestino. A partir da década de trinta, surgiram folhetos trazendo nas capas clichês de artistas de cinema, fotos de postais, retratos de Padre Cícero e Lampião. As xilogravuras ou “tacos”, como ainda hoje preferem chamar os artistas populares, usam madeiras leves, como umburana, pinho, cedro, cajá.
Na xilogravura, a resistência – maior ou menor – da madeira sofre transformações. Criam-se na madeira novos veios, outra trama. Fibras nascentes vão compondo vãos e cortes abertos pela goiva. Essas fibras nevrálgicas – amalgamadas ao branco do papel – compõem com ele os ritmos das fibras insurgentes, a contrastar com o filamento negro ou colorido da impressão. As xilogravuras são ilustrações populares obtidas por gravuras talhadas em madeiras, muito difundidas no Nordeste e sempre associadas à literatura de cordel, uma vez que, a partir do final do século XIX, passam a ser utilizadas na produção das capas dos folhetos.
Anteriormente, a xilogravura tinha uso considerado “menos nobre”, como a confecção de rótulos de garrafas de cachaça e outros produtos. Sua grande popularidade veio com o cordel.
2.4. A estrutura da Métrica.
A evolução da literatura de cordel no Brasil não ocorreu de maneira harmoniosa. A oral, precursora da escrita, engatinhou penosamente em busca de forma estrutural. Os primeiros repentistas não tinham qualquer compromisso com a métrica e muito menos com o número de versos para compor as estrofes. Alguns versos alongavam-se inaceitavelmente, outros, demasiado breves. Todavia, o interlocutor respondia rimando a última palavra do seu verso com a última do parceiro, mais ou menos assim:
Repentista A – O cantor que pegá-lo de revés
Com o talento que tenho no meu braço…
Repentista B – Dou-lhe tanto que deixo num bagaço
Só de murro, de soco e ponta-pés.
2.4.1 Parcela ou verso de quatro sílabas
A parcela ou verso de quatro sílabas é o mais curto conhecido na literatura de cordel. A própria palavra não pode ser longa, do contrário, ela sozinha ultrapassaria os limites da métrica e o verso sairia de pé quebrado. A literatura de cordel, por ser lida e ou cantada, é muito exigente com a questão da métrica. Vejamos uma estrofe de versos de quatro sílabas, ou parcelas.
Eu sou judeu
Para o duelo
Cantar martelo
Queria eu
O pau bateu
Subiu poeira
Aqui na feira
Não fica
Queimo a semente
Da bananeira.
Quando os repentistas cantavam parcela (sim, cantavam, porque esta modalidade caiu em desuso), os versos brotavam numa sequência alucinante, cada um querendo confundir mais rapidamente o oponente. Esta modalidade é pré-galdiniana, não se conhecendo seu autor.
2.4.2 Verso de cinco sílabas
Já a parcela de cinco sílabas é mais recente, e não há registro de sua presença antes de Firmino Teixeira do Amaral, cunhado de Aderaldo Ferreira de Araújo, o Cego Aderaldo. A parcela de cinco sílabas era cantada também em ritmo acelerado, exigindo do repentista grande rapidez de raciocínio. Na peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho do Tucum, da autoria de Firmino Teixeira do Amaral, encontramos estas estrofes:
Pretinho:
no sertão eu peguei
um cego malcriado
danei-lhe o machado
caiu, eu sangrei
o couro tirei
em regra de escala
espichei numa sala
puxei para um beco
depois dele seco
fiz dele uma mala
Cego:
Negro, és monturo
Molambo rasgado
Cachimbo apagado
Recanto de muro
Negro sem futuro
Perna de tição
Boca de porão
Beiço de gamela
Venta de moela
Moleque ladrão
Estas modalidades, entretanto, não foram as primeiras na literatura de cordel. Ao contrário, vieram quase um século depois das primeiras manifestações mais rudimentares que permitiram, inicialmente, as estrofes de quatro versos de sete sílabas.
2.4.3 Estrofes de quatro versos de sete sílabas
O Mergulhão quando canta
Incha a veia do pescoço
Parece um cachorro velho
Quando está roendo osso.
Não tenho medo do homem
Nem do ronco que ele tem
Um besouro também ronca
Vou olhar não é ninguém
A evolução desta modalidade se deu naturalmente. Vejamos a última estrofe de quatro versos acrescida de mais dois, formando a nossa atual e definitiva sextilha:
Meu avô tinha um ditado
meu pai dizia também:
não tenho medo do homem
nem do ronco que ele tem
um besouro também ronca
vou olhar não é ninguém.
2.4.5 Sextilhas
Agora, de posse da técnica de fazer sextilhas, e uma vez consagradas pelos autores, esta modalidade passou a ser a mais indicada para os longos poemas romanceados, principalmente a do exemplo acima, com o segundo, o quarto e o sexto versos rimando entre si, deixando órfãos o primeiro, terceiro e quinto versos. É a modalidade mais rica, obrigatória no início de qualquer combate poético, nas longas narrativas e nos folhetos de época. Também muito usadas nas sátiras políticas e sociais. É uma modalidade que apresenta nada menos de cinco estilos: aberto, fechado, solto, corrido e desencontrado. Vamos, pois, aos cinco exemplos:
Aberto:
Felicidade, és um sol
dourando a manhã da vida,
és como um pingo de orvalho
molhando a flor ressequida
és a esperança fagueira
da mocidade florida.
Fechado:
Da inspiração mais pura,
no mais luminoso dia,
porque cordel é cultura
nasceu nossa Academia
o céu da literatura,
a casa da poesia.
Solto:
Não sou rico nem sou pobre
não sou velho nem sou moço
não sou ouro nem sou cobre
sou feito de carne e osso
sou ligeiro como o gato
corro mais do que o vento.
Corrido:
Sou poeta repentista
Foi Deus quem me fez artista
Ninguém toma o meu fadário
O meu valor é antigo
Morrendo eu levo comigo
E ninguém faz inventário
Desencontrado:
Meu pai foi homem de bem
Honesto e trabalhador
Nunca negou um favor
Ao semelhante, também
Nunca falou de ninguém
Era um homem de valor.
2.4.6 Setilhas
Uma prova de que as setilhas são uma modalidade relativamente recente está na ausência quase completa delas na grande produção de Leandro Gomes de Barros. Sim, porque pela beleza rítmica que essas estrofes oferecem ao declamador, os grandes poetas não conseguiram fugir à tentação de produzi-las. Para alguns, as setilhas, estrofes de sete versos de sete sílabas, foram criadas por José Galdino da Silva Duda, 1866 – 1931. A verdade é que o autor mais rico nessas composições, talvez por se tratar do maior humorista da literatura de cordel, foi José Pacheco da Rocha, 1890 – 1954. No poema A CHEGADA DE LAMPIÃO NO INFERNO, do inventivo poeta pernambucano, encontram-se estas estrofes:
Vamos tratar da chegada
quando Lampião bateu
um moleque ainda moço
no portão apareceu.
– Quem é você, Cavalheiro –
– Moleque, sou cangaceiro –
Lampião lhe respondeu.
– Não senhor – Satanás, disse
vá dizer que vá embora
só me chega gente ruim
eu ando muito caipora
e já estou com vontade
de mandar mais da metade
dos que têm aqui pra fora.
Moleque não, sou vigia
e não sou o seu parceiro
e você aqui não entra
sem dizer quem é primeiro
– Moleque, abra o portão
sabia que sou Lampião
assombro do mundo inteiro.
Excelente para ser cantada nas reuniões festivas ou nas feiras, esta modalidade é, ainda hoje, muito usada pelos cordelistas. Esta modalidade é, também, usada em vários estilos de mourão, que pode ser cantado em seis, sete, oito e dez versos de sete sílabas. Exemplos:
Cantador A
– Eu sou maior do que Deus
maior do que Deus eu sou
Cantador B
– Você diz que não se engana
mas agora se enganou
Cantador A
– Eu não estou enganado
eu sou maior no pecado
porque Deus nunca pecou.
Ou com todos os versos rimados, a exemplo das sextilhas explicadas antes:
Cantador A –
Este verso não é seu
você tomou emprestado
Cantador B –
Não reclame o verso meu
que é certo e metrificado
Cantador A –
Esse verso é de Noberto
Se fosse seu estava certo
como não é está errado.
2.4.7 Oito pés de quadrão ou Oitavas
Os oito pés de quadrão, ou simplesmente oitavas, são estrofes de oito versos de sete sílabas. A diferença dessas estrofes de cunho popular para as de linha clássica é apenas a disposição das rimas. Vejam como o primeiro e o quinto versos desta oitava de Casimiro de Abreu (1837 – 1860) são órfãos:
Como são belos os dias
Do despontar da existência
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar – é lago sereno,
O Céu – Um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida um hino de amor.
Na estrofe popular aparecem os primeiros três versos rimados entre si; também o quinto, o sexto e o sétimo, e finalmente o quarto com o último, não havendo, portanto, um único verso órfão. Assim:
Diga Deus Onipotente
Se é você, realmente
Que autoriza, que consente
No meu sertão tanta dor
Se o povo imerso no lodo
apregoa com denodo
que seu coração é todo
De luz, de paz e de amor.
2.4.8 Décimas
As décimas, dez versos de sete sílabas, são, desde sua criação no limiar do nosso século, as mais usadas pelos poetas de bancada e pelos repentistas. Excelentes para glosar motes, esta modalidade só perde para as sextilhas, especialmente escolhidas para narrativas de longo fôlego. Ainda assim, entre muitos exemplos, as décimas foram escolhidas por Leandro Gomes de Barros para compor o longo poema épico de cavalaria A BATALHA DE OLIVEIROS COM FERRABRAZ, baseado na obra do imperador francês Carlos Magno:
Eram doze cavalheiros
Homens muito valorosos
Destemidos, corajosos
Entre todos os Guerreiros
Como bem fosse Oliveiros
um dos pares de fiança
Que sua perseverança
Venceu todos os infiéis
Eram uns leões cruéis
Os doze pares de França.
2.4.9 Martelo Agalopado
O Martelo agalopado, estrofe de dez versos de dez sílabas, é uma das modalidades mais antigas na literatura de cordel. Criada pelo professor Jaime Pedro Martelo (1665 – 1727), as martelianas não tinham, como o nosso martelo agalopado, compromisso com o número de versos para a composição das estrofes. Alongava-se com rimas pares, até completar o sentido desejado. Como exemplo, vejamos estes alexandrinos:
“Visitando Deus a Adão no Paraíso
achou-o triste por viver no abandono,
fê-lo dormir logo um pesado sono
e lhe arrancou uma costela, de improviso
estando fresca ficou Deus indeciso
e a pôs ao Sol para secar um momento
mas por causa, talvez dum esquecimento
chegou um cachorro e a carregou,
nessa hora furioso Deus ficou
com a grande ousadia do animal
que lhe furtara o bom material
feito para a construção da mulher,
estou certo, acredite quem quiser
eu não sou mentiroso nem vilão,
nessa hora correu Deus atrás do cão
e não podendo alcançar-lhe e dá-lhe cabo
cortou-lhe simplesmente o meio rabo
e enquanto Adão estava na trevas
Deus pegou o rabo do cão e fez a Eva.”
Com tamanha irresponsabilidade, totalmente inaceitável na literatura de cordel, o estilo mergulhou, desde o desaparecimento do professor Jaime Pedro Martelo em 1727, em completo esquecimento, até que em 1898, José Galdino da Silva Duda dava à luz feição definitiva ao nosso atual martelo agalopado, tão querido quanto lindo. Pedro Bandeira não nos deixa mentir:
Admiro demais o ser humano
que é gerado num ventre feminino
envolvido nas dobras do destino
e calibrado nas leis do Soberano
quando faltam três meses para um ano
a mãe pega a sentir uma moleza
entre gritos lamúrias e esperteza
nasce o homem e aos poucos vai crescendo
e quando aprende a falar já é dizendo:
quanto é grande o poder da Natureza.
Há, também, o martelo de seis versos, como sempre, refinado, conforme veremos nesta estrofe:
Tenho agora um martelo de dez quinas
fabricado por mãos misteriosas
enfeitado de pedras cristalinas
das mais raras, bastante preciosas,
foi achado nas águas saturninas
pelas musas do céu, filhas ditosas.
2.4.10 Galope à Beira Mar
Com versos de onze sílabas, portanto mais longos do que os de martelo agalopado, são os de galope à beira mar, como estes da autoria de Joaquim Filho:
Falei do sopapo das águas barrentas
de uma cigana de corpo bem feito
da Lua, bonita brilhando no leito
da escuridão das nuvens cinzentas
do eco do grande furor das tormentas
da água da chuva que vem pra molhar
do baile das ondas, que lindo bailar
da areia branca, da cor de cambraia
da bela paisagem na beira da praia
assim é galope na beira do mar.
Logicamente que há o galope alagoano, à feição de martelo agalopado, com dez versos de dez sílabas, cuja diferença única é a obrigatoriedade do mote: “Nos dez pés de galope alagoano”.
2.4.11 Meia Quadra
Outra interessante modalidade é a Meia Quadra ou versos de quinze sílabas. Não sabemos porque se convencionou chamar de meia quadra, quando poderia, muito bem, se chamar de quadra e meia ou até de quadra dupla. As rimas são emparelhadas e os versos, assim compostos:
Quando eu disser dado é dedo você diga dedo é dado
Quando eu disser gado é boi você diga boi é gado
Quando eu disser lado é banda você diga banda é lado
Quando eu disser pão é massa você diga massa é pão
Quando eu disser não é sim você diga sim é não
Quando eu disser veia é sangue você diga sangue é veia
Quando eu disser meia quadra você diga quadra e meia
Quando eu disser quadra e meia você diga meio quadrão.
A classificação da literatura de cordel tem sido objeto da preocupação dos chamados iniciados, pesquisadores e estudiosos. As classificações mais conhecidas são a francesa de Robert Mandrou, a espanhola de Julio Caro Baroja, as brasileiras de Ariano Suassuna, Cavalcanti Proença, Orígenes Lessa, Roberto Câmara Benjamin e Carlos Alberto Azevedo. Mas a classificação autenticamente popular nasceu da boca dos próprios poetas.
No limiar do presente século, quando já brilhava intensamente à luz de Leandro Gomes de Barros, fluía abundante o estro de Silvino Pirauá e jorrava preciosa a veia poética de José Galdino da Silva Duda. Esses enviados especiais passaram a dominar com facilidade a rima escorregadia, amoldando, também, no corpo da estrofe o verso rebelde. Era o início de uma literatura tipicamente nordestina e, por extensão, brasileira, não havendo mais, nos nossos dias, qualquer vestígio da herança peninsular.
Atualmente, a literatura de cordel é escrita em composições que vão desde os versos de quatro ou cinco sílabas ao grande alexandrino. Até mesmo os princípios conservadores defendidos pelos nossos autores ortodoxos referem-se a uma tradição brasileira e não portuguesa ou espanhola. Os textos dos autores contemporâneos apresentam um cuidado especial com a uniformização ortográfica, com o primor das rimas, com a beleza rítmica e com a preciosidade sonora.
2.5 As diferenças entre repente, literatura de cordel e embolada.
Repente: no Brasil, a tradição medieval ibérica dos trovadores deu origem aos cantadores – ou seja, poetas populares que vão de região em região, com a viola nas costas para cantar os seus versos. Eles aparecem nas formas da trova gaúcha, do calango (Minas Gerais), do cururu (São Paulo), do samba de roda (Rio de Janeiro) e do repente nordestino. Ao contrário dos outros, esse último se caracteriza pelo improviso – os cantadores fazem os versos “de repente”, em um desafio com outro cantador, não importa a beleza da voz ou afinação, o que vale é o ritmo e a agilidade mental que permita encurralar o adversário apenas com a força do discurso.
A métrica do repente varia, bem como a organização dos versos: temos a sextilha (estrofe de seis versos, em que o primeiro rima com o terceiro e o quinto, o segundo rima com o quarto e o sexto), a sepetilha (sete versos em que o primeiro e o terceiro são livres, o segundo rima com o quarto e o sétimo e o quinto rima com o sexto) e variações mais complexas com o martelo, o martelo alagoano, o galope beira mar e tantas outras.
Cordel: A literatura de cordel é assim chamada pela forma como são vendidos os folhetos pendurados em barbantes (cordões) nas feiras, mercados, praças e bancas de jornais, principalmente nas cidades do interior e nos subúrbios das grandes cidades. Essa denominação foi dada pelos intelectuais e é como aparece em alguns dicionários. O povo se refere à literatura de cordel apenas como folheto.
Embolada: Canto geralmente improvisado com refrão fixo para o desafio de dois emboladores que se “enfrentam” de maneira semelhante aos repentistas da viola – a diferença é que, na embolada, o instrumento é o pandeiro. Muito comum no litoral nordestino. “A briga” se dá em forma de sextilha. Também é comum um único embolador se apresentar para uma roda de curiosos – neste caso, o poeta usa seus versos para satirizar a plateia, mas sem agredi-la, e pedir dinheiro.
“A história de Joana”
Preste atenção, amigo
Na história que eu vou contar
Não aconteceu comigo
Mas você pode se identificar
Trata-se de um amor não correspondido
Uma paixão de matar…
Era uma vez uma menina
Seu nome era Joana
Por todos era querida
Menos pelo menino que ama
Ela muito sofria
Porém ele não a correspondia
Ela fazia de tudo
Mas ele não a notava
Suas amigas diziam para esquecer
O menino que tanto amava
Mas ela não conseguia
Tirá-lo do coração
Toda vez que o via
Suspirava de emoção
Ele a ignorava
E ela morria de paixão
E um dia então
Ela resolveu se declarar
Falar pra ele quanto o amava
Já não aguentava mais se calar
Foi cheia de esperança
Se ele quisesse namorar. Ficar
Pelo menos tentar
Para ver no que dá
Chegou acanhada
A vergonha teve que engolir
Quando ela terminou
Ele postou-se a rir
E para todos falou
“Olhem só essa garota
O que veio me dizer
Que me ama imensamente
Ora, tenho mais o que fazer
Saia logo daqui
Posso ter melhores que você”
Todos riram dela
E Joana começou a chorar
Foi saindo de fininho
Andando bem devagar
Ela queria para sempre
Aquela cena apagar
Mas não conseguiu esquecer
A humilhação que passou
Um ódio começou a nascer
E então ela se vingou
Uma raiva enorme tomou conta
No lugar daquele amor
No outro dia, no intervalo
Todo mundo se calou
Quando ela apareceu
Uma arma sacou
E apontou para Mateus
O menino que tanto amou
Aos prantos começou a gritar
Estavam todos espantados
Não sabiam o que falar
Ela, então, começou a se pronunciar
Falou alto e claro e em claro tom
Para que todos pudessem escutar
Todos guardaram suas palavras
As quais irei lhes relatar
“Posso não ser o que você espera
Mais sou muito mais do que merece
Me arrependo por tê-lo amado tanto
Um garoto que não vale uma lágrima do meu pranto
Você me fez de idiota
Eu, a menina que mais lhe amou
Agora, olhe sua condição
Sua vida está em minha mão”
Mateus não sabia o que fazer
Mais não teve tempo para pensar
Joana não o perdoou.
2.6 A história da literatura de cordel no Nordeste.
Os folhetos de cordel, com seus múltiplos temas e, como se sabe, esta riquíssima e sugestiva expressão literária popular que se encontrou fértil campo no nordeste brasileiro, inspirada na literatura francesa Colportage, nos romances e pliegos sueltos ibéricos e na própria literatura de cordel portuguesa, a nossa literatura de folhetos (ou de cordel) nasceu e desenvolveu-se no nordeste brasileiro, cantando as sagas e a sabedoria do povo sertanejo. Atualmente, esta manifestação popular pode ser encontrada em diversos pontos do país, sempre incentivada pela comunidade nordestina.
O primeiro folheto que se tem notícia foi publicado na Paraíba por Leandro Gomes de Barros, em 1893. Acredita-se que outros poetas tenham publicado antes, como Silvino Pirauá de Lima, mas a literatura de cordel começou mesmo a se popularizar no início deste século. As primeiras tipografias se encontravam no Recife e logo surgiram outras na Paraíba, na Capital e em Guarabira. João Melquiades da Silva, de Bananeiras, é um dos primeiros poetas populares a publicar na tipografia popular Editor, em João Pessoa.
Contrariando a austera do alto grau de analfabetismo, a popularização da literatura de cordel no Nordeste se deu mais pelo esforço pessoal dos poetas cordelistas, fora dos círculos culturais acadêmicos, contando suas histórias nas feiras e praças, muitas vezes ao lado de músicas. Os folhetos eram expostos em barbantes, ou amontoados no chão, despertando a atenção do matuto que se acostumou a ouvir os temas da literatura popular de cordel em suas idas às feiras, verdadeiras festas para o povo do sertão, nas quais podiam, além de fazer compras e vender produtos, divertir-se e se inteirar dos assuntos políticos e sociais.
Pode-se falar em literatura de cordel como um conjunto de autores, obras e público. O poeta cordelista, na maioria das vezes de origem humilde e proveniente do meio rural, migrava para os grandes centros urbanos, onde passava a tirar seu sustento da venda dos folhetos, chegando, algumas vezes, a funções de tipógrafo e editor. Neste contexto, ele se tornava verdadeiro mediador das concepções das classes populares nordestinas, já que compartilhava a mesma ideologia e valores de seu público.
Os folhetos, confeccionados em sua maioria no tamanho 15 a 17cm x 11cm e, em geral, impressos em papel de baixa qualidade, tinham suas capas ilustradas com xilogravuras na década de 20, em substituição às vinhetas. Já nos anos 30 a 50, surgiram as capas com fotos de estrelas de cinema americano. Atualmente, ainda mantêm o mesmo formato, porém são encontrados outros maiores. Quanto à impressão, substituindo a tipografia do passado, hoje são usadas as fotocópias.
Os temas da literatura de cordel são muito estudados por folcloristas, sociólogos e antropólogos que chegam a apresentar conclusões polêmicas e algumas vezes contraditórias quanto à sua classificação. Detalhes à parte, quanto a várias propostas, os folhetos se dividem entre os assuntos descritivos e os narrativos. É no primeiro grupo que estão incluídos os folhetos de conselhos, eras, corrupção, profecias e de discussão, que guardam um certo parentesco em si, por encerrarem uma mensagem moralista frequentemente ligada a uma ética e a uma sabedoria sertaneja.
Nesta área, multiplicam-se as histórias que trazem como pano de fundo a vida dura do campo, cheia de sofrimentos, mas alheia aos desmantelos do mundo moderno e urbano. Também se encaixam nos folhetos descritivos as pelejas entre cantadores e poetas, as personalidades da cidade e da política (muitas vezes encomendadas pelos próprios políticos em época de eleição), os temas de louvação ou crítica, os religiosos contando preconceitos e virtudes católicas, as biografias ou milagres dos santos e de figuras como Padre Cícero e Frei Damião. Há ainda os de gracejos de acontecimentos reais e imaginários, de bravura e valentia, como os feitos de Lampião, Antonio Silvino e Pedro Malasarte, entre outros que a literatura popular transforma bandidos em heróis.
As características gráficas e temáticas dos folhetos podem variar de acordo com o deslocamento da área de atuação do poeta, que muitas vezes se depara com um público de concepção e comportamento diferente do matuto nordestino.
Ao falar de literatura de cordel no nordeste, não se pode esquecer de Antonio Gonçalves da Silva, conhecido como Patativa do Assaré, referência no município em que nasceu. Analfabeto “sem saber as letras onde mora”, como diz em um de seus poemas, sua projeção em todo Brasil se iniciou na década de 50, a partir da regravação de “Triste Partida”, toada de repente gravada por Luis Gonzaga.
Sua imaginação poética serviu de vassala para denunciar injustiças sociais, propagando sempre a consciência e a perseverança do povo nordestino que sobrevive e dá sinais de bravura ao resistir às condições climáticas e políticas desfavoráveis. A esse fato se refere à estrofe da música Cabra da Peste.
“Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida, que alinda cabocla
De riso na boca zomba no sofrê
Não nego meu sangue, não nego meu nome.
Olho para a fome, pergunto: que há?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da Peste, sou do Ceará.”
3 – ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÕES
A aprendizagem trata-se de um processo pelo qual o aluno se apropria das experiências de ensino do cotidiano, o qual analisa para futuramente explorá-la no meio em que vive. Nesse intere de relação existente entre professor e aluno, vem-nos a pergunta: qual seria a melhor maneira de se aprender Literatura, quando os alunos de hoje têm a leitura como uma “tortura”?
Na verdade, percebe-se que o professor, bem como a escola, devem estar aptos a captar a melhor forma de ensinar, se responsabilizando pela melhoria da qualidade da educação, conforme bem asseverou Paulo Freire, 1985:77, “Queremos ter uma escola viva, em que se viva a cidadania e não uma escola onde um dia se sonhe em ser cidadão. A infância já cidadã é ser vivo já, é ser social já”.
A arte trata-se da melhor forma de chamar a atenção do aluno, pois propicia o desenvolvimento do pensamento artístico, que se caracteriza em um eu particular de cada aluno. A questão do ensino da leitura literária envolve um exercício de reconhecimento, fazendo estarem presentes na escola em relação aos textos literários.
Daí surge a literatura de cordel como meio incentivador para o ensino de literatura. Na verdade, essa literatura, bastante desconhecida aqui mesmo na região nordestina, onde dela se extrai um grande número de cordelistas, percebe-se que as escolas não trabalham esse tipo de literatura, que é bastante excluída nas salas de aula, bem como nos livros didáticos.
Ora, a literatura de cordel, trata-se de um veículo de fabuloso fomento à identidade regional, foi por muitos anos a principal forma de veiculação de notícias em vários Estados do Nordeste. Hoje, sem muita importância, é pouco desenvolvida por alunos em salas de aula, os quais poucos a conhecem.
Destacando o texto de José Romero Araújo Cardoso, ao tratar dessa literatura bastante desconhecida em seu artigo “A Importância do Cordel na Sala de Aula”, o qual destaca iniciativas como a de Arievaldo Viana, através do projeto intitulado “Acorda Cordel na Sala de Aula”, ressalta a importância de se estudar o cordel em sala, ou seja, como forma de incentivo no ensino da literatura.
Romero destaca as atividades desenvolvidas por Arievaldo, onde o mesmo desenvolve sua verve extraordinária alertando sobre a necessidade de primar por normas ortográficas e gramaticais corretas, tendo em vista que o cordel, quando usado para alfabetização, principalmente de jovens e adultos, os quais já por estarem com uma idade já considerada avançada em se alfabetizarem, o cordel entra nesse cenário como a melhor maneira que Arievaldo Viana encontrou para a alfabetização de jovens e adultos.
Romero ressalta, ainda, em seu artigo a influência do cordel na vida de Arievaldo, o qual desde a infância, quando se verificou o contato do mesmo com grandes nomes das bravuras e feitos épicos narrados primorosamente em folhetos de diversos mestres do passado. Destaca, ainda, que o cordel tinha decisiva importância na formação do povo nordestino, em razão de que o advento do rádio e da televisão era pouco enfático.
De acordo com Arievaldo Viana, a escola exclui o cordel da sala, mostrando outro tipo de literatura difícil para quem está acabando de aprender a ler e escrever:
As pessoas acabam de aprender a ler, e a escola oferece logo livros do Machado de Assis, Augusto dos Anjos, Drumond e outros autores. São excelentes escritores e poetas, mas o texto deles, para quem acabou de começar a ler, é muito denso e difícil de entender. Por isso, eu acredito que seja necessário que as escolas de ensino fundamental utilizem, nas bibliotecas, os folhetos de cordéis porque são textos simples e mais agradáveis para quem acaba de começar a ler e se familiarizar com a escrita.
Conforme acredita Arievaldo Viana, os versos em cordel são mais fáceis de serem memorizados, devido à rima agradável. Por isso, além de promover a leitura, o trabalho educativo com os cordéis se estende para outros tipos de conhecimento.
Arievaldo se destaca por apresentar um célebre projeto dos cordéis em sala de aula, o qual existe há mais de cinco anos e foi pioneiro na cidade de Canindé, depois alguns municípios de outros estados do Brasil, os quais aderiram ao projeto de Arievaldo e já o estão desenvolvendo.
Outro projeto, bastante discutido, foi o que aconteceu na zona rural da cidade de São Gonçalo do Amarante/Ce, com a professora Francisca das Chagas, da Escola de Ensino Fundamental João Pinto Magalhães, intitulado “Rimas que encantam”, discutido por Denise Pellegrini, a qual ensinou seus alunos a utilizar o conhecimento regional (cordel) para melhorar a leitura e escrita, cabendo frisar que a referida professora, com esse trabalho que fez em sala, foi merecedora do prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita.
Conforme Francisca das Chagas relatou, o projeto teve como objetivo maior a informação, onde se pesquisaram vários autores de cordéis, a definição, alguns poemas, dentre os quais se destacou Patativa do Assaré, donde os alunos recitaram e copiaram alguns poemas dele.
Ainda em relação ao projeto da professora Francisca das Chagas, conforme Denise Pellegrini ressaltou, a professora referida, de início, estava um pouco apreensiva, porém, com o desenrolar do projeto, percebia-se o interesse dos alunos pelo cordel.
Ao analisar o artigo “Cordel para iniciantes. E iniciados” de Joana Lira, a mesma relata os trabalhos apresentados pelas professoras Sandra Lúcia de Souza Menezes e Margaret Mota de Lima, do Instituto Educacional O Canarinho, de Fortaleza, as quais utilizaram o cordel como meio incentivador para o aprendizado do aluno, as quais destacaram que a literatura de cordel foi por muitos anos a principal forma de veiculação de notícias em vários Estados do Nordeste e que, com o tempo, foi perdendo a importância e hoje, muitos estudantes desconhecem esse tipo de literatura.
Percebe-se que um professor ao utilizar a literatura de cordel e textos de Patativa do Assaré para quebrar preconceitos da arte literária, mostrando aos alunos que a língua popular muitas vezes é ridicularizada, porque o povo é discriminado, irá fazer com que os alunos descubram a regra gramatical desses versos, trabalhando assim a literatura e a linguagem, fazendo com que os mesmos redescubram uma linguagem rica em rimas e versos, desmoronando assim o pensamento de que certo é só o que está na mídia.
Pois bem. É necessário partir da ideia básica de que o cordel, em si, trata-se de um texto literário de suma potencialidade, o qual não se origina obrigatoriamente de uma necessidade prática – não constitui uma resposta a uma solicitação imediata e, por isso mesmo, se constitui num exercício de liberdade linguística como nenhum outro uso que se consegue ser.
Assim, à escola, em geral, e ao ensino médio, em particular, devem injetar a literatura de cordel no ensino de literatura, porque só assim o aluno conseguirá perceber e exercitar as possibilidades mais remotas e imprevistas a que a sua língua pode remeter.
Na verdade, percebe-se que o que fora discutido acima trata-se de opiniões que foram ratificadas por pessoas que estudaram a fundo o tema. Verifica-se que as escolas de hoje estão querendo se adaptar ao novo estilo de ensinar, compreendendo os valores e etnias dessa geração e quais são os meios que se prendam à atenção dela. Sabe-se, ainda, que há muito a melhorar, mas os erros e as perspectivas foram apresentadas, como aqui mesmo fora estudado, e corroborado por diversos projetos que injetaram o cordel no ensino de literatura.
4 -CONCLUSÃO
Ao terminar este trabalho, vi e entendi como a literatura de cordel, enquanto veículo do imaginário popular, refaz os caminhos enviesados do olhar matuto, reconstitui a maneira do sertanejo reagir ao mundo e, mais do que isso, deixa pistas do sistema complexo sobre o qual se edifica seu sentimento de contestação.
Manifestação artística viva em sintonia estreita com a visão popular, a literatura de cordel oferece aos pesquisadores um espaço sempre aberto de reflexão sobre uma maneira peculiar, por vezes contraditória, mas não menos preciosa, de se pensar o mundo e de afirmar a identidade, traçando caminhos de subversão e de liberdade, protesto, convertendo o espaço poético numa arena de luta.
É que o povo sofrido, alimentado por sentimentos de inferioridade, constrói suas próprias maneiras de dar sentido a uma existência sofrida e de recuperar um pouco da dignidade ofendida, e de negação da realidade na qual o povo se vinga do opressor. A literatura de cordel se oferece para a literatura de uma forma geral como veículo da revolta artística elaborada, dando à ficção a potencialidade da luta e da subversão.
5 – REFERENCIAL TEÓRICO
ABAURRE, Maria Luiza M; PONTARA, Marcela, Literatura Brasileira: tempos leitores e leituras, volume único, São Paulo, editora moderna, 2005.
ABAURRE, Maria Luiz e PONTORA, Marcela. Literatura Brasileira, tempos leitores e leituras. Ed. Moderna. Ensino Médio
ABLC – Academia Brasileira de Cordel. Academia Brasileira de Cordel, Gonçalo Ferreira da Silva, Literatura Brasileira, Literatura popular, Duelo de Repentistas
CORDEL, Literatura de. Disponível em: www.guiape.com.br/culturais/literatura de cordel.html.
Diário do Nordeste – caderno 3
DUARTE, Marcelo. O Guia dos Curiosos., língua Portuguesa. São Paulo. Pand 12003.
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GERIN, Júlia; PORTO, Márcia Flamia; NASCIMENTO, Rubi Rachel.
Volume integrado, 1; 5º e 6º séries Língua portuguesa; Educação Jovens e Adultos, Curitiba: Editora Educarte, 2006
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NICOLAS, José de. Literatura brasileira das origens aos nossos dias; 15ª edição, São Paulo, editora Scipione, 1969.
BARSA, Enciclopédia. ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA DO BRASIL PUBLICAÇÕES LTDA.
Autor: Marcos Antonio Pontes