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O papel do lúdico no ensino e aprendizagem infantil

Descubra como a ludicidade pode ajudar no processo de ensino e aprendizagem da criança. Seja um parceiro na jornada de desenvolvimento infantil e conheça como a ludicidade pode contribuir para o sucesso escolar.

O papel do lúdico no ensino e aprendizagem infantil

Créditos das autoras: Denise Peçanha da Vitória (Pedagoga e professora pós-graduada em psicopedagogia (PMV), Maria de Fátima Silva Paulo (Pedagoga, professora pós-graduada em psicopedagogia (PMC)

“A criança, um ser em criação. Cada ato é para ela uma ocasião de explorar e de tomar posse de si mesma, ou, para melhor dizer, a cada extensão a ampliação de si mesma. E esta operação, executa-a com veemência, com fé: um jogo contínuo. A importância decorre de conquista em conquista, uma vibração incessante”.

Maria Montessori

1- INTRODUÇÃO

Desde os tempos mais remotos, o brincar é a principal atividade da criança: brincar de faz de conta, arcos, cordas, bonecas. Podemos constatar esse brincar em murais, pinturas, esculturas que diversas gerações deixaram registradas, como a tela “Jogos Infantis, de Pieter Brugel”. Durante toda a Idade Antiga, o jogo é visto como recreação. Já na Idade Média, foi considerado “não sério” por estar associado ao jogo de azar. No Renascimento, a brincadeira é vista como algo que favorece o desenvolvimento da inteligência, facilita o estudo e é adequado para a aprendizagem dos conteúdos escolares. No Romantismo, é construído o pensamento em que a criança e o jogo têm novo lugar, tendo como representantes filósofos e educadores Jean Paul Rechter, Hoffmann e Froeber, que consideram o jogo como conduta espontânea de educação na infância.

Antes do século XVII, a criança era vista de forma negativa, sem valor como um ser inacabado. No entanto, a partir deste século, o estudioso Rousseau passou a defender a criança como portadora de natureza própria que deve ser desenvolvida. A infância é a idade do possível, podendo ser ela a esperança de mudança tanto social quanto moral. A infância é a visão idealizada do passado do adulto que se vê remetido para esta fase de sua vida, através dos seus brinquedos e estas imagens são resultados da memória e da imaginação.

No século XIX, com o surgimento da psicologia da criança, surge a teoria de Groos, que considerava o jogo pré-exercício de instintos herdados, uma ponte entre a biologia e a psicologia. De certa maneira, uma necessidade biológica, um instinto e, psicologicamente, um ato voluntário e retoma o jogo enquanto uma ação espontânea natural (influência biológica), prazerosa e livre (influência psicológica) e antecipa a sua relação com a educação (treino de instinto).

Muitas destas brincadeiras e jogos tradicionais perduram até hoje, na memória das pessoas que brincavam de: amarelinha, chicotinho queimado, cabra cega que hoje não aparecem nas brincadeiras das crianças.

A brincadeira tem como suporte o brinquedo. É ele que desencadeia o imaginário infantil e assim a criança vai concretizar as regras do jogo através da ação lúdica.

Vários autores que se dedicaram ao estudo dos jogos no desenvolvimento da criança, classificam os jogos de acordo com critérios por eles adotados. Piaget (1971) se dedicou a elaborar uma classificação de jogos através de observações e registros, em sua casa, na escola, na rua. Propõe a existência de três categorias e cada uma delas corresponde a um estágio mental da criança.

Sensório Motor, um estágio em que as atividades surgem como simples exercício motor e que vai depender da maturidade do aparelho motor da criança. É caracterizado entre 0 a 2 anos. Nesta fase, a criança começa a construir o seu eu e já diferencia o mundo externo do seu corpo. Neste estágio, os exercícios da criança são repetitivos, apalpa objetos, produz sons e ruídos, monta e desmonta. Embora específico dos dois primeiros anos de vida, ele reaparece durante toda a infância e até mesmo em adulto, quando repetimos uma determinada conduta lúdica até que uma nova capacidade seja adquirida. Por exemplo, uma criança de 7 anos que tenta andar de bicicleta ou um adulto que começa a dirigir um carro.

Simbólicos: compreendido entre 2 a 6 anos, se manifesta como ficção, imaginação, imitação. Surge a metamorfose, a criança transforma o irreal em realidade e assim sente prazer e pode ser um meio para que resolva conflitos, compensação de necessidades não satisfeitas. Ela vai para um mundo de faz de conta e fantasias; pois brincando de casinha, representa diferentes papéis, imitando pai, mãe, filho; ao brincar de escolhinha vai representar o aluno ou o papel do professor. E muitas vezes, ela imita para fugir da realidade tentando eliminar barreiras que poderiam levá-la ao fundo do poço. Esse faz de conta é um elemento válido até que não ultrapasse valores presentes em nossa sociedade. Já que o real sempre estará presente quando a criança voltar de suas fantasias. Nesse estágio, a criança poderá desenvolver atitudes autoritárias ou liberais, carinhosas ou agressivas, dependendo da convivência com o adulto.

Jogos de Regras: começa a se manifestar por volta de cinco anos, no entanto, se caracteriza principalmente dos 7 aos 12 anos e poderá perdurar durante toda a vida. São combinações que podem ir do sensório-motor como jogos de bola até aos intelectuais como o xadrez. São caracterizados por regras, ordem e relações sociais. Este tipo de jogo começa quando a criança se socializa, abandona o egocentrismo, adquire o espírito de cooperação e isto é muito importante na escola.

É preciso, neste estágio, desenvolver em nossas crianças o sentimento de solidariedade, companheirismo, pois assim estaremos desenvolvendo um espírito coletivo em que todos se ajudarão e a escola terá realmente cumprido seu papel, educando, socializando e preparando-o para a vida.

Sendo os jogos de regras uma atividade presente na vida das pessoas, temos que pensá-lo como um recurso pedagógico importante, pois além de socializar, a criança aprende brincando, fazendo atividades que lhe são prazerosas, como diz Leif (1978, p. 11), “jogar educa assim como viver educa”. E os educadores devem buscar nos jogos recursos para a aprendizagem, pois além de serem um impulso natural, a criança satisfaz alguma necessidade interior como: prazer e esforço espontâneo.

Os jogos ou brincadeiras criam um clima de entusiasmo que se envolve com o emocional que é capaz de gerar vibração e euforia. Estas atividades geram interesse e canalizam energias para que se atinja um objetivo. São atividades físicas e mentais que irão colaborar e estimular as funções neurológicas e as operações mentais, integrando a criança em dimensões afetivas e cognitivas, gerando assim, um envolvimento educacional natural e sem repressões, sempre levando em consideração o desenvolvimento mental e suas tendências inatas.

Todos os educadores que realmente quiserem se empenhar e desenvolver o cognitivo e o social de seus alunos não podem esquecer que brincando e jogando a criança reproduz sua vivência, transforma o real de acordo com seus desejos e interesses, assim, ela se manifesta e constrói sua realidade.

Se formos analisar o jogo na evolução da criança, podemos constatar que crianças de 4 a 6 anos conseguem assimilar regras simples e que muitas vezes são quebradas, pois não conseguem lembrar de todos os detalhes. Isto acontece porque ela não valoriza a competição, já que não tem uma ideia formada do que seja ganhar ou perder, ela joga por simples diversão. Portanto, nesta fase, o educador deve selecionar jogos com poucas regras e incentivar a integração social, sempre destacando atividades voltadas para a linguagem.

Entre 7 a 12 anos, os jogos já possuem regras bem definidas, são mais coletivos e a criança já precisa ter noção de cooperação e esforço grupal, pois quando as regras são violadas ocorrem discussões, choro, agressões, uma vez que o sentimento de competição se faz presente. Todavia, o educador deve intervir procurando despertar a solidariedade e a cooperação, porque a criança precisa saber vencer e perder sem humilhar ou ser humilhada, porque o jogo deve contribuir para formar atitudes sociais, respeito mútuo, senso de responsabilidade, obediência, colaboração consciente e espontânea, já que competir é saudável.

Lopes (2000) ressalta que o desenvolvimento infantil precisa acontecer nas diferentes áreas para que ocorra um equilíbrio entre elas. A criança desenvolve o cognitivo, mas também as áreas afetiva e motora, simultaneamente. E os jogos propostos por ela estabelecem parâmetros em três dimensões: corporal, afetivo e cognitivo.

E alerta aos professores que para trabalhar com jogos é importante que o educador tenha objetivos bem definidos e saiba escolher o jogo adequado ao momento educativo, pois através dos jogos, as aulas serão mais interessantes e os conteúdos serão passados de forma mais atraente, porque as crianças hoje não são seres passivos, que engolem conteúdos despejados, hoje, elas são questionadoras, querem participar das aulas, saber os “porquês” e os “para quês”. Por isso, o professor nunca deve esquecer que é muito mais importante saber como a criança aprende do que como ensinar.

Ela também ressalta a importância da criação de jogos conhecidos ou não no trabalho psico-pedagógico, já que através da confecção de jogos, as crianças desenvolvem suas potencialidades. É considerada também uma terapia de distúrbios de aprendizagem, integrando as diferentes áreas da aprendizagem do desenvolvimento infantil, dentro da vivência da própria criança.

Os jogos podem ser trabalhados por meio de sua aplicação e confecção, tanto no contexto escolar como clínico. Através dos jogos, pode-se trabalhar a ansiedade da criança, rever seus limites, diminuir sua dependência, aprimorar a coordenação motora, a organização espacial, a concentração e a atenção, ampliar o raciocínio lógico, além de desenvolver a criatividade, a autonomia e a discriminação auditiva.

Cada jogo apresenta, dentro do item objetivo, uma ou mais dessas características, para que o profissional possa escolher o jogo mais apropriado para o momento educativo a que se propõe. Dentro de um grupo, porém, muitas vezes se faz necessário reunir uma série de objetivos que atinjam os participantes de forma individual ou grupal. Para isso, o educador pode fazer um planejamento em que a utilização dos jogos tenha um efeito gradual e globalizante dentro dos aspectos desenvolvidos em cada jogo (LOPES, 2000, p.47-8).

Lembrando sempre que cada momento é único e com características próprias e assim poderão surgir novos objetivos.

Kamii (2001) ressalta a importância dos jogos para o desenvolvimento do raciocínio lógico matemático, estimulando professores a usar jogos. Através deles as crianças são motivadas às contagens, à adição, entre outros conteúdos. São capazes de confrontar ideias, descobrirem os que trapaceiam ou os que erram e sugerem vários tipos de jogos, que proporcionam um contexto muito bom para o desenvolvimento de conceitos matemáticos.

As crianças se envolvem naturalmente em atividades auto-instrutivas e desenvolvem a iniciativa e a curiosidade. Contudo, é necessário haver uma intenção educativa e um planejamento do professor para que os objetivos predeterminados sejam alcançados.

Para Friedmann (1998), o jogo infantil pode ser conceituado sob diferentes enfoques: Sociológico, Educacional, Psicológico, Antropológico e Folclórico, e assim defende cada categoria:

Sociológico: a influência do contexto social no qual os diferentes grupos de crianças brincam;

Educacional: a contribuição do jogo para a educação; desenvolvendo e/ou facilitando a aprendizagem da criança;

Psicológico: o jogo como meio para compreender melhor o funcionamento da psiquê, das emoções e da personalidade dos indivíduos. Na clínica, ele é utilizado basicamente para a observação das diversas condutas e para a recuperação (ludoterapia).

Folclórico: analisado o jogo como expressão da cultura infantil das diversas gerações bem como as tradições e costumes dos tempos nele refletidos; (FRIEDMANN, 1998, p.11-12).

Rosamilha (apud Wallon) descreve a classificação dos jogos na visão de:

Jogos funcionais: conduzem ao exercício gratuito de funções psicológicas emergentes, sejam mais tipicamente físicas, sejam sensoriais, sejam como derivadas da tonicidade muscular. Até as saídas de classe por parte das crianças caracterizam este último tipo. Aos poucos vão incluir as normas e regras.

Assim, a corrida pela corrida é enriquecida pela corrida para perseguir o colega (pega-pega, mocinho e bandido). O jogo de bola passa a incluir a destreza no seu manuseio. Aos poucos incluem-se, pois, nestes jogos, as normas e os desejos de afirmação;

Jogos de ficção ou de imitação: brincar de papai e mamãe, de boneca, de casinha, de vaqueiro, de trem, de avião (…);

Jogos de aquisição: a criança olha, escuta, pergunta. É o caso das gravuras, televisão, discos, paisagens, coleções de selos, etc;

Jogos de fabricação: combinar, cortar, modelar, construir coisas e objetos, jardinagem, bordados, costura, desenho (ROSAMILHA, 1979, P.49-80).

Para Hishimoto (1997), a palavra jogo pode ser entendida de diferentes formas, porém com suas especificidades. Há jogos que desenvolvem a astúcia, outros a flexibilidade proporcionando o prazer a quem joga. Sempre lembrando que no jogo existem regras que devem ser obedecidas.

O jogo pode ser visto de três formas. Como resultado de um sistema linguístico que funciona dentro de um contexto social, onde a noção de jogo não é vista como linguagem científica, possibilitando interpretações e projeções sociais. Assim, o jogo possibilita um maior conhecimento cultural, possuindo significados distintos, tendo construída uma imagem de acordo com os valores existentes em um determinado contexto social.

Podemos também ver o jogo como um sistema de regras, em que é possível identificar uma estrutura sequencial específica com a modalidade. Permitindo assim, a diferenciação de cada jogo.

Já na terceira forma, há referência do jogo enquanto objeto, pois o brinquedo difere do jogo, cria uma relação mais íntima com a criança e a ausência de regras faz com que seu seja determinado. O brinquedo é para a criança, a representação da realidade, do seu cotidiano. No brinquedo pode haver, também, a incorporação do imaginário, como: desenhos animados, ficção científica, contos de fadas, que são expressos através de bonecos articulados, mistos de homens, animais, máquinas ou monstros.

2- DESENVOLVIMENTO

Os jogos e brincadeiras no trabalho psicopedagógico muito podem contribuir na prática pedagógica, atingindo diferentes faixas etárias. Variando desde brincadeiras já conhecidas da criança até a criação de novos jogos.

Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, [..] brincar é uma das atividades mais importantes para o desenvolvimento da identidade e da autonomia das crianças [..]”, além de [..] “desenvolver habilidades importantes como a atenção, a imitação, a memória e a imaginação, o aluno também amadurece a capacidade de socialização por meio da interação e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais (1998, p. 22).

A brincadeira permite pensar, construir, decidir, experimentar, sentir emoções, cooperar, descobrir, aceitar limites, competir. Nas brincadeiras as crianças ficam frente a frente com situações já vividas pelos seus pais. Segundo Benjamin, citado por Porto (2003), “o brinquedo, mesmo quando não é apenas miniatura de objetos que circulam no mundo dos adultos, é confronto, não tanto da criança com os adultos, mas destes com a criança”.

Lembrando que quando a criança cria um jogo ou o confecciona, a motivação é sempre maior, fazendo com que ela se sinta valorizada, principalmente as tímidas e com baixa estima.

Estes recursos possibilitam às crianças manifestarem curiosidades sobre os conhecimentos já adquiridos, bem como a exploração de vários materiais que são colocados à sua disposição, pois jogando e brincando, a criança assimila conhecimentos, experiências e valores, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo, social e afetivo.

Segundo Araújo (1992, p. 14), é de fundamental importância o jogo na vida da criança, pois quando ela brinca, explora e manuseia tudo aquilo que está à sua volta, através de esforços físicos e mentais e sem se sentir coagida pelo adulto, começa a ter sentimentos de liberdade e satisfação pelo que faz, dando, portanto, real valor e atenção às atividades vivenciadas naquele instante.

Conhecendo o valor educativo contido nos jogos e brincadeiras, o educador poderá alcançar um desenvolvimento globalizado, atingindo necessidades de seu aprendiz, de forma que este seja um sujeito ativo na construção de seu conhecimento, pois o encanto natural das crianças de todas as idades e realidades sociais pelo brincar, nos fez pensar na importância dos jogos e brincadeiras como parceiros do processo de ensino-aprendizagem.

“Os brinquedos são suporte para a mediação do professor que desafia o raciocínio das crianças, tornando possível que o aprender-descobrindo aconteça dentro de um contexto”. (Amae Educando, 1996, p. 7)

Ressaltando que o êxito do ensino-aprendizagem depende em grande parte da interação professor-aluno, devemos alertar que o professor é um facilitador da aprendizagem e assim deverá criar condições para que a criança explore seus movimentos, manipule materiais e interaja com seus companheiros e assim, resolva situações problemas. E que guie seus alunos para ações participativas em tarefas e atividades que o façam se aproximar mais dos conteúdos programados.

As crianças brincam, transformando os brinquedos, reelaborando-os criativamente. Combinando os dados da própria experiência, elas constroem uma nova realidade e quando as crianças brincam entre si, ou sozinhas, não estão “perdendo tempo”, mas sim construindo uma série de conhecimentos e de habilidades importantíssimas, ao mesmo tempo que podem reviver e resolver uma série de conflitos emocionais, brincando na presença de adultos que se interessam por seus jogos. (Rischbieter, 2000, p.98)

O ato de brincar, jogar, criar e imitar é um meio para que as crianças se apropriem da cultura corporal na qual estão inseridas, contribuindo assim para o desenvolvimento de relações interpessoais na sala de aula e fora dela. Em um ambiente organizado, os jogos e brincadeiras auxiliam as interações, o desenvolvimento cognitivo e a autonomia das crianças.

É importante estimular uma mudança na postura pedagógica dos profissionais que atuam nesta modalidade de ensino, bem como alertar as instituições educacionais a investir na formação de seus profissionais para que incorpore o lúdico na proposta pedagógica, dando assim suporte para que estas atividades possam contribuir no desenvolvimento das funções psiconeurológicas e as operações mentais envolvidas em cada uma delas.

Acreditamos que as brincadeiras de outras décadas que fizeram crianças felizes e permanecem em alguns lugares são: a pipa, a bicicleta e a bola.

“Brincar não constitui perda de tempo, nem é simplesmente uma forma de preencher o tempo. A criança que não tem oportunidades de brincar está como um peixe fora d’água.” (Martins, 2005, p.181)

Também os estudos de Piaget e Vygotsky trazem à baila o valor do brinquedo e da brincadeira para o conhecimento e desenvolvimento infantil. Através de estudos, basicamente sobre conhecimento, Piaget acreditava que o mesmo se forma aos poucos e que são os próprios indivíduos que os constroem progressivamente no decorrer das atividades do sujeito com o meio, atreladas ao jogo espontâneo como incentivador e motivador no processo de aprendizagem.

“O brincar é o principal meio de aprendizagem da criança…[e esta] gradualmente desenvolve conceitos de relacionamentos causais, o poder de discriminar, de fazer julgamentos, de analisar e sintetizar, de imaginar e formular (Moyles, 2002, p.37).

Brincar leva naturalmente à criatividade, porque em todos os níveis do brincar as crianças precisam usar habilidades e processos que proporcionam oportunidades de ser criativo.

Sabendo da necessidade da motivação para a aprendizagem, o educador deve descobrir a melhor forma de chamar a atenção do aluno, utilizando também outros recursos metodológicos não somente o jogo, como afirma Friedmann, “a ideia de aproveitar o jogo como metodologia não prioriza sua utilização enquanto mero instrumento didático”. (1996, p. 59)

Então,

“É preciso que os profissionais de educação infantil tenham acesso ao conhecimento produzido na área de Educação Infantil em geral, para repensarem sua prática, se reconstituírem enquanto cidadãos e atuarem enquanto sujeitos da produção, para que possam mais do que “implantar” currículos ou “aplicar” propostas à realidade da creche/pré-escola em que atuam, para participar da sua concepção, construção e consolidação.” (Kramer apud MEC/SEF/COEDI, 1996 p. 19)

O educador deve ser o articulador dos processos de desenvolvimento e aprendizagem, orientando, mediando, propondo desafios, estimulando a curiosidade, a criatividade e o raciocínio da criança. Deve ainda criar atividades que promovam a interação da criança com objetos e com outras crianças para que ocorra o desenvolvimento infantil. Tudo isso deve acontecer de forma lúdica, pois além de divertir, as brincadeiras são excelentes aliadas no processo de aprendizagem.

3- CONCLUSÃO

As ruas estão praticamente vazias. Não existem meninas correndo, só alguns meninos ainda se atrevem a brincar nelas. Hoje, poucos pais podem acompanhar as brincadeiras das crianças nas ruas e assim algo tão puro está morrendo. Queremos acreditar que a violência esteja afastando as crianças das ruas e não o comodismo dos pais, pois seria muito triste pensar que é mais fácil entregar um videogame para uma criança do que deixá-la brincar na rua. Assim, a escola tem o dever de resgatar os diversos tipos de brincadeiras que fazem parte do nosso passado e não deixar no esquecimento algo que foi tão importante na infância de muitas pessoas, porém sempre resgatando o passado e incluindo-o no presente e visando ao desenvolvimento cognitivo e social, sonhando em ver as crianças realmente brincando no recreio e não se digladiando, pois o brincar é um dos atos mais prazerosos para a criança e faz parte do seu viver.

Como o brincar é uma atividade prazerosa e cotidiana na vida das crianças e isto é necessário para que elas exercitem sua imaginação, porque na brincadeira a criança ordena, desordena, destrói e constrói o mundo à sua maneira, conquistando assim um espaço para suas fantasias, desejos, medos e sentimentos. Vai construindo seu conhecimento a partir das experiências que vivem, pois quando brinca a criança se defronta com desafios e problemas e, por isso, tentará buscar soluções, criando e manifestando desejos e curiosidades. Desta maneira, os jogos e brincadeiras criam um elo no processo ensino-aprendizagem.

Como a escola tem feito distinção entre a brincadeira e o estudo, e com isso o lúdico perde seu referencial e real significado.

Em atenção à exigência de uma sociedade competitiva, tecnológica, onde se espera que o indivíduo seja produtivo o mais cedo possível, a escola, e principalmente, a Educação Infantil deveria considerar o lúdico como parceiro e utilizá-lo amplamente para atuar no desenvolvimento das crianças. As crianças fazem das brincadeiras uma ponte para o imaginário, a partir dele muito pode ser trabalhado. Contar, ouvir história, dramatizar, jogar com regra, desenhar entre outras atividades constituem meios prazerosos de aprendizagem. Através delas as crianças expressam suas criações e emoções, refletem medos e alegrias, desenvolvem características importantes para a vida adulta.

Brincando a criança encontra-se com o mundo de corpo e alma percebendo como ele é e dele recebendo elementos de suma importância para a sua vida, desde os atos mais significantes, até fatores determinantes da cultura do seu tempo.

4- REFERÊNCIAS

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ANTUNES, Celso. Jogos para a estimulação das inteligências múltiplas. Rio de Janeiro: Vozes, 1998.

ARAÚJO, Vânia Carvalho de. O jogo no contexto da educação psicomotora. São Paulo: Cortez, 1992.

CHÂTEAU, Jean. O jogo e a criança. São Paulo: Summus, 1987.

_____ Desde pequenoaprendendo com brinquedos. Amae Educando, São Paulo, n 264, p. 6-11, nov.1996.

FONTANA, Roseli, CRUZ, Nazaré. Psicologia e trabalho pedagógico. São Paulo: Atual, 1997.

FRIEDMANN, Adriana. Brincar, crescer e aprender – o resgate do jogo infantil. São Paulo: Editora Moderna, 1998.

KISHIMOTO, Tizuko M. Jogo, brinquedo e educação. Rio de Janeiro: Cortez, 1999.

MOYLES, Janet R. Só brincar? O papel do brincar na educação infantil. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002.

OLIVEIRA, Mari. Ângela, Calderari. Intervenção psicopedagógica na escola. Curitiba: IESDE, 2004.

PORTO, Cristina L. Jogos e brincadeiras: desafios e descobertas. Disponível em:<http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2003/jbdd/teimp.htm>. Acesso em: 23 de janeiro de 2006.

Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.

RISCHBIETER, Luca. Guia Prático de pedagogia elementar. Curitiba Nova Didática, 2000.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1989.


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